Doutor, você vai perder pacientes para Inteligência Artificial?

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Os médicos serão substituídos pela IA?

Estamos vivendo em um mundo cada vez mais tecnológico, e é certo que você já ouviu falar dos recentes avanços na Inteligência Artificial (IA), especialmente devido ao hype com as ferramentas de interação com linguagem natural, como o ChatGPT – já incorporado em muitas atividades profissionais.

E você, Doutor(a), sabe bem que os avanços da tecnologia são frutos de intensa pesquisa e desenvolvimento para melhorar, também, Medicina e os serviços de saúde em geral. São constantes as notícias sobre o uso de IA na prática médica, com a finalidade de melhorar os diagnósticos e tratamentos, e de aperfeiçoar os processos e rotinas.

12,5% das startups brasileiras de inteligência artificial focam em saúde e biotecnologia. A visão computacional da AI pode auxiliar, por exemplo, na análise de exames para detectar anomalias.  A brasileira Onkos, por exemplo, é uma startup que auxilia em diagnósticos incertos: a companhia une biologia molecular, assinaturas genéticas personalizadas e inteligência artificial. Em outras fases da cadeia de serviços de medicina e saúde, a CogniSigns realiza triagem digital para tratamento de Transtorno do Especto Autista (TEA), e a Mindify automatiza protocolos de pós-atendimento.

Neste contexto, por exemplo, recentemente a Google anunciou o desenvolvimento de um novo modelo de linguagem para uso médico: o Med-PaLM 2. Trata-se, na descrição da BigTech, de novo modelo de aprendizado de máquina (LLM) baseado em um algoritmo capaz de trabalhar com multimodalidade, e que está sendo desenvolvido especificamente para melhorar a análise e geração de laudos, o tratamento do câncer, a classificação de dados genéticos e a geração de respostas a partir da literatura médica. Com a capacidade de responder questões médicas com precisão, a inteligência artificial do Med-PaLM 2 tem 18% de melhora em relação à sua versão anterior. O modelo foi testado em 14 critérios diferentes, incluindo fatos científicos, acurácia e consenso médico.

E onde isto vai parar? Os médicos serão substituídos por máquinas e robôs?

Antes de tudo, é preciso marcar alguns pontos:

  1. Inteligência Artificial (IA), na área de saúde, é uma ferramenta (eu disse: ferramenta!) diagnóstica e de gestão, e como tal deve ser utilizada.
  2. Os avanços tecnológicos estão sendo direcionados, principalmente, para o setor de radiologia – ressonância magnética e tomografia computadorizada -, procedimentos cirúrgicos, exames laboratoriais e diagnósticos por imagens, e vêm facilitando a emissão de laudos com assertividade e segurança.
  3. Não há qualquer pretensão de dar às máquinas a tomada de decisão clínica; pelo contrário, o objetivo é atribuir mais confiabilidade e transparência aos diagnósticos, às prescrições e às sugestões de tratamento feitas pelo médico.

Ou seja, e exatamente como acontece hoje com o que já está disponível no mercado, as ferramentas de Inteligência Artificial têm o potencial de auxiliar os profissionais da saúde na gestão dos processos e rotinas, e na resolução das mais diversas questões relacionadas ao diagnóstico e tratamento dos pacientes, mas sem substituir os médicos – que sempre terão a palavra final.

Os hospitais inteligentes estão utilizando ferramentas tecnológicas para avaliar a condição de saúde dos pacientes. A plataforma NVIDIA Clara é um exemplo: especializada no processamento de imagens médicas, ela auxilia os profissionais de radiologia a analisarem e interpretarem imagens, já que a tecnologia de inteligência artificial pode, com base nos dados fornecidos, apontar potenciais complicações e identificar riscos de agravamento na saúde do paciente. Contudo, é relevante destacar as palavras de Evan Goldberg (cofundador e vice-presidente executivo da Oracle NetSuite): “a análise final quem faz é o médico“.

É uma questão de otimização e eficiência, na tomada de decisões clínicas pelos médicos.

Os programas de inteligência artificial têm a capacidade de analisar imagens de ressonância magnética e tomografia computadorizada de forma precisa, identificando as estruturas anatômicas relevantes. Eles também auxiliam os cirurgiões na determinação da abordagem mais adequada para cada situação. Além disso, a IA oferece a possibilidade de simulação em tempo real durante a cirurgia, permitindo ajustes e correções instantâneas, o que resulta em maior precisão e na redução dos riscos associados ao procedimento.

Para você, as notícias acima soam como oportunidade ou ameaça?

Eu acredito que este cenário não é, de modo algum, ameaçador para os profissionais da saúde.

Pelo contrário, entendo que estamos diante da real oportunidade de restabelecer a verdadeira função dos médicos: entregar muito mais do que qualidade técnica, ao papel de construir relações humanas com os pacientes (e com a família dos pacientes), baseadas na comunicação honesta, transparente e empática; no diálogo direto com olho no olho e escuta ativa; tudo para dar segurança e conforto diante do diagnóstico, bem como diante das possibilidades e condições de tratamento e acompanhamento.

Além do mais, sendo coerente quanto à avaliação do fato noticiado:

  1. Quem sugeriu o diagnóstico? 🤖 ChatGPT: uma ferramenta de inteligência artificial.
  2. Quem confirmou o diagnóstico e realizou o tratamento, e os procedimentos necessários? 👨‍⚕️ O médico.

Perceba que a tecnologia é ferramenta. A notícia confirma o que defendo: os médicos não serão substituídos por máquinas, mas serão substituídos por profissionais da saúde que sabem usar as máquinas. Dentre outros muitos fatores, a eficiência e a qualidade do médico serão medidas pela sua capacidade de atuar em ambiente colaborativo com as ferramentas de inteligência artificial.

Doutor e Doutora, a ideia é que você trabalhe em conjunto com a máquina, de forma a tornar o seu trabalho mais preciso, rápido e eficiente: agilidade e excelência, tanto em pesquisas acadêmicas, quanto nas atividades práticas de atendimento aos pacientes. Tanta produtividade e eficiência, promovida pelo uso da IA, vai liberar tempo para que os médicos não se desgastem na execução diária do nível operacional, e possam se dedicar ao nível estratégico: mais gestão e melhor posicionamento, mais comunicação e melhor relacionamento com seus pacientes.

Sobre o tema, cabe uma informação jurídica de muita importância: tramita no Congresso Nacional um projeto de lei que disciplina o uso de sistemas de Inteligência Artificial (IA) na atuação de médicos – o PL 266/2024 determina que esses recursos tecnológicos sejam utilizados apenas como auxiliares na atuação desses profissionais. Ou seja, logo teremos uma lei impondo que no campo da atenção à saúde as ferramentas de inteligência artificial devem ser utilizadas para ajudar o médico, preservando sua autonomia profissional. A proposta de lei altera a Lei do Ato Médico (Lei 12.842, de 2013) para determinar que a utilização desses sistemas sem supervisão médica constitui exercício ilegal da Medicina, cabendo ao Conselho Federal de Medicina regulamentar sua utilização. Ou seja, a implantação de sistemas baseados em IA não poderá eliminar nem substituir o protagonismo dos médicos nos cuidados de saúde e promoção de qualidade de vidas das pessoas.

“A inteligência artificial tem um enorme potencial na Medicina."
“A inteligência artificial tem um enorme potencial na Medicina.”

A medicina é uma ciência e uma arte. Além da capacidade técnica e do conhecimento dos médicos e médicas, as suas habilidades de empatia, comunicação, julgamento clínico, ética – bem como a capacidade de entender o contexto humano – são aspectos cruciais da prática médica.

Cito, dentre muitos, o exemplo do Hospital das Clínicas de São Paulo – o maior complexo hospitalar da América Latina. A utilização da inteligência artificial (IA) está contribuindo para a luta contra o câncer de fígado, um tipo de tumor que muitas vezes não apresenta sintomas até estar em estágios avançados da doença. A startup MaChiron, uma empresa apoiada pelo HC / FMUSP, desenvolveu um algoritmo que analisa imediatamente as imagens de tomografia após sua realização. Quando alterações são detectadas, o paciente é classificado como prioritário – procedimento que aumenta significativamente suas chances de receber tratamento eficaz, elevando as probabilidades de cura. Enquanto um médico leva, em média, de 40 a 50 minutos para analisar os resultados da tomografia, a aplicação de IA faz a interpretação e análise em 30 segundos. Qualquer médico gostaria de contar com ferramentas deste naipe, para exercer a Medicina com muito mais qualidade.

E como já dissemos, por mais avançada que seja, estas ferramentas tecnológicas não substituirão os médicos naquilo que sabem fazer de melhor: agregar camadas de valor à técnica científica.

Máquinas não são capazes de gerar conexões humanas com base na relação de confiança. Máquinas não comunicam camadas de valor como acolhimento, tranquilidade e segurança. A inteligência artificial cada vez auxiliará, mas nunca substituirá os médicos humanos – isto porque a IA nunca será um humano.
O papel de ser humano, de ser um médico humano, não será entregue às máquinas. Por outro lado, e considerando que a inteligência artificial é uma poderosa ferramenta de análise de dados e diagnóstico, como tal deve ser incorporada na rotina e nos protocolos médicos.

Portanto, doutores e doutoras, as suas preocupações não devem ser em relação à ameaça de substituição pelas máquinas, mas sim em relação à concorrência por seus colegas que estão se habilitando e capacitando para este futuro – que já é realidade.

Atribuindo à IA a função de ferramenta de análise, permanece com os médicos o importante dever de entregar valor aos pacientes, agregando muito mais humanizaçãopersonalização e individualização ao diagnóstico, à tomada das decisões clínicas, e à eleição do tratamento.

Doutores, preparem-se para retornar à essência da Medicina: a qualidade da relação médico-paciente.

É por isto que eu digo: Doutor(a), você deve ir além do conhecimento técnico que a faculdade entregou.
Acumular diplomas e mais diplomas, certificados e mais certificados, isto não é mais suficiente para fazer a Medicina de verdade, para entregar o serviços médicos que os pacientes esperam e merecem. Aliás, a qualidade técnico-científica não é mais um diferencial para atrair, reter, encantar e fidelizar pacientes.

Doutores e Doutoras, deixem o alto volume de informações e a análise de padrões para as ferramentas de IA. Serão os exames feitos pela máquina que proporcionarão identificar os casos raros, evidenciar sinais de alerta, rastrear doenças diante da falta de sintomas, ou mesmo indicar os riscos de desenvolvimento de doenças e enfermidades; e, também, darão agilidade e precisão em casos urgentes. Mas o atendimento é do médico, e é de um médico que os pacientes esperam a prestação de um serviço baseado com atenção plena, empatia e conveniência.

Assim, no mesmo compasso em que você se dedica a adquirir novos conhecimentos científicos, trilhe também o caminho do aperfeiçoamento de suas técnicas de atendimento e comunicação; atente-se para as estratégias de gestão do seu consultório, aprenda a se posicionar no mercado médico para ganhar autoridade e ser percebidos como “médico de atencioso e de qualidade“. Somados à qualidade da sua técnica médica, estes são os seus diferenciais de valor.

“Quanto mais a inteligência artificial for aplicada à Medicina, mais liberdade terá o médico para se dedicar a melhorar a relação médico paciente.”

Camila Bristot

Criadora do Método GPS: 3 pilares estratégias para você, Doutor(a), entregar resultados e gerar satisfação para os pacientes, sem abrir mão segurança financeira do seu Consultório Médico.
Fundadora e CEO na Multiverso de Valor.

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